Qual foi o impacto da pandemia na qualidade da água?
por Assessoria de Imprensa SOS Mata Atlântica
Análise indica que a diminuição da poluição ajudou na recuperação de rios. Resultado só será mantido se houver saneamento e proteção de áreas verdes
Neste Dia Mundial da Água, 22 de março, a Fundação SOS Mata Atlântica chama a atenção para a condição ambiental dos rios monitorados durante o ciclo hidrológico de março de 2020 a fevereiro de 2021, que coincide com o primeiro ano da pandemia do novo coronavirus.
Houve uma tendência de melhora por conta de avanços nos índices de coleta e tratamento de esgoto e do isolamento social, que resultou na redução de fontes difusas de poluição, como lixo e material particulado proveniente da fuligem de veículos automotivos. Mas a organização alerta: a melhoria observada de forma pontual só se tornará permanente se houver investimentos contínuos em saneamento básico e proteção de matas nativas e áreas verdes.
Por outro lado, a equipe técnica da organização também destaca que a pressão sobre o uso doméstico da água durante a pandemia resultou no comprometimento da qualidade da água de rios em regiões impactadas, no mesmo período, por secas e diminuição das vazões. Os resultados foram apresentados no relatório “Retrato da Qualidade da Água nas Bacias Hidrográficas da Mata Atlântica“.
No total dos 130 pontos monitorados neste ciclo de 2020 a 2021, 95 deles (73,1%) apresentaram qualidade da água regular, 22 (16,9%) ruim e 13 (10%) estão em boa condição. O levantamento não identificou corpos d’água com qualidade de água ótima ou péssima.
Considerados os 95 pontos fixos de monitoramento nos quais é possível fazer um comparativo com o período anterior (2019-2020), os indicadores apontaram variações expressivas em 20 pontos. A condição da qualidade da água melhorou em 10 pontos, enquanto 75 continuam com as mesmas condições do levantamento anterior, inclusive com destaque para quatro pontos bons.
“A gente já fala há muitos anos que a situação de um rio é o espelho do comportamento da sociedade”, afirma Gustavo Veronesi, coordenador do projeto Observando os Rios da Fundação SOS Mata Atlântica.
O coordenador explica que o processo de degradação de um corpo d’água, por lançamento de esgotos sem tratamento ou desmatamento de suas margens é rápido, mas, a recuperação pode demandar muitos anos.
“Por isso, os indicadores e dados mudam pouco, mas os rios têm, em geral, boa capacidade de se recuperar, desde que não fiquemos parados. É preciso agir agora, mudar a nossa forma de gestão e governança e como consumimos a água“, diz Veronesi.
Os indicadores de qualidade da água reunidos no estudo foram obtidos graças ao trabalho voluntário de 3 mil pessoas que integram 256 grupos de monitoramento do projeto Observando os Rios, patrocinado pela Ypê e com apoio da Sompo Seguros. Os grupos de voluntários coletaram e analisaram a qualidade da água, mensalmente ao longo do ciclo de 12 meses, com acompanhamento e supervisão técnica da Fundação SOS Mata Atlântica.
Água e floresta
Dos dez pontos que melhoraram de condição alcançando o índice de qualidade de “bom”, cinco estão próximos de áreas protegidas ou com mata nativa: os rios Pratagy, em Alagoas, Biriricas, no Espírito Santo, o Córrego Bonito, no Mato Grosso do Sul, além de pontos dos rios Tietê e Jundiaí, em São Paulo.
O ponto do Tietê é na cidade de Salesópolis, onde fica sua nascente, e o do rio Jundiaí, no município de Salto. Os outros pontos com melhoria foram encontrados nos estados de Pernambuco, Sergipe e outros três em São Paulo, que saíram da situação “ruim” para “regular”.
No rio Tietê, dos 14 pontos de monitoramento fixos, quatro apresentaram melhora. Além do ponto já citado na cidade de Salesópolis, o rio saiu da condição ruim para regular nas cidades de Itu, Salto e Santana de Parnaíba.
“Conseguir que um grande rio como o Tietê apresente esses indicadores, pode parecer pouco, mas reforça a importância de investir de forma contínua em saneamento básico”, avalia Malu Ribeiro, diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.
O rio Tietê, conhecido pelas altas cargas de poluição que recebe, também apresentou um ponto com piora no índice de qualidade da água, localizado no município de Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo. Segundo a SOS Mata Atlântica, essa região vem sofrendo com o aumento acelerado de ocupações irregulares entre as cidades de Mogi das Cruzes e Suzano.
Entre aqueles que pioraram de situação, destaque para oito pontos que passaram da condição regular para ruim. Eles ficam nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco (dois pontos), Rio Grande do Sul (dois pontos) e São Paulo (dois pontos).
Calor e qualidade da água
As altas temperaturas registradas em alguns rios neste ciclo de monitoramento, em alguns casos chegando a 30ºC ou mais, trouxeram um alerta sobre os impactos das mudanças do Clima sobre a qualidade da água. Altas temperaturas reduzem o oxigênio presente na água e, consequentemente, afetam a vida aquática.
Em condições normais, as médias consideradas adequadas para os rios das bacias monitoradas, deveriam ser de temperaturas na faixa de 18 e 23ºC. A existência de áreas verdes e matas nativas nas margens dos rios, fazendo sombreamento a ele, pode minimizar esses efeitos.
Para Malu Ribeiro, o poder público e a sociedade precisam priorizar ações voltadas às populações que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica. Ela destaca principalmente aqueles desprovidos de acesso ao saneamento básico e os que perderam moradia durante a pandemia e passaram a viver nas ruas e em beira de córregos.
“Os indicadores levantados também reforçam que em áreas rurais há a necessidade de fiscalização e controle contra o uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes“, completa a diretora.
Veja a tabela comparativa abaixo com o número total de cada indicador:
Qualidade da água em 1 ano de pandemia, em rios monitorados pela SOS Mata Atlântica
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