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Maioria dos brasileiros não pode comer como gostaria 

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6 min de leitura

125 milhões de brasileiros passam por algum grau de insegurança alimentar no país e a situação é pior no meio rural, diz relatório

 

Um relatório investigou o acesso dos brasileiros a itens alimentícios entre novembro de 2021 e abril de 2022 e descobriu que só 4 em 10 famílias têm acesso pleno à alimentação, com 125,2 milhões (58% da população nacional) vivendo algum grau de insegurança alimentar. Na situação mais vulnerável estão 33 milhões de brasileiros, pessoas que estão efetivamente passando fome. São 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em relação aos dados de 2020.

 

 

58% da população brasileira vive algum grau de insegurança alimentar, diz Rede PENSSAN (Foto: Getty Imagens)

 

 O estudo – 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil – foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) e executada pelo Instituto Vox Populi. A ação contou com a parceria de organizações da sociedade civil como a Ação da Cidadania, ActionAid, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Sesc São Paulo

 

A pesquisa anterior, de 2020, mostrava que a fome no Brasil tinha voltado para patamares equivalentes aos de 2004. A piora no cenário econômico e o acirramento das desigualdades sociais no segundo ano da pandemia e a falta de políticas para o setor agravaram o quadro. 

 

“As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, avalia Renato Maluf, Coordenador da Rede PENSSAN.

 

 

Fome é maior no campo

 

Por mais contraditório que possa parecer, a fome é maior no campo. Segundo o estudo, nas áreas rurais, a insegurança alimentar (em todos os níveis) esteve presente em mais de 60% dos lares. Nestes domicílios, 18,6% das famílias convivem com a insegurança alimentar grave (fome), valor maior do que a média nacional (15%). Especificamente nas casas dos agricultores familiares e pequenos produtores, 21,8% passam fome. A pesquisa ressalta o papel que o desmonte de políticas de apoio às populações do campo e da floresta tiveram para gerar este resultado. 

 

 

Grau de fome tem cor e gênero

 

A fome também tem cor e gênero. Segundo o inquérito, a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicílios onde a pessoa de referência se autodeclara branca, nos lares com responsáveis autodeclarados pretos ou pardos, cai para 35%. Isso significa que 65% dos lares comandados por pessoas não brancas convivem com restrição de alimentos em algum nível.

 

Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3% entre 2020 e 2022. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. Isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros.

 

A fome é dobrada nos lares com crianças e jovens no Brasil. Nas casas com moradores com menos de 10 anos de idade, a fome subiu de 9,4% para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atingiu 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.

 

O estudo mostra ainda que a situação está preocupante até para os que têm renda familiar superior a um salário mínimo por pessoa. Se em 2020 não havia domicílios com este perfil em situação de fome, no início de 2022, 3% dos lares nesta faixa de renda têm seus moradores em situação de fome, e 6% convivem com algum grau de restrição quantitativa de alimentos (insegurança alimentar moderada) e 24% não conseguem manter a qualidade adequada de sua alimentação (insegurança alimentar leve).

 

Para saber mais: leia o relatório completo em https://olheparaafome.com.br/

 

 

Uma solução

 

Soluções existem, e uma delas vem sendo construída do Vale do Ribeira (SP). Lá uma cooperativa de agricultores quilombolas uniu esforços para minimizar o impacto da pandemia da Covid-19 nas favelas. Eles elaboraram um plano emergencial para distribuir para famílias vulneráveis alimentos orgânicos produzidos em suas roças tradicionais, que mantêm a Mata Atlântica de pé.

 

Confira no mini-documentário: Do quilombo pra favela - Alimento para a resistência negra no Youtube. 

 

 

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